Depois de muito tempo com essa ideia incubada, resolvi colocá-la no papel na internet de uma vez. Diferente de todos os outros artigos aqui do site, este precisou ser feito em texto simples e puro, pois quero colocar links de vídeos e músicas para exemplificar.
A maioria dos fãs de Silent Hill (e muitos que não são, também) conhece o nome de Akira Yamaoka.
Maestro das músicas dos primeiros jogos, ele criou um estilo inconfundível e único para acompanhar a atmosfera da série. Mas sabia que além desse tipo de música, ele também já fez outras participações, inclusive com estilos bem mais inesperados?
Fã declarado de Rock antigo e Metal, ele também gosta bastante de experimentar e criar músicas eletrônicas. Participou de outros projetos da Konami, com vários pseudônimos, e inclusive lançou um álbum solo que, infelizmente, ficou bem desconhecido no Ocidente.
Neste artigo tentarei comentar um pouco sobre algumas das músicas e também sobre os álbuns não relacionados a Silent Hill nos quais ele aparece. Enquanto lê, que tal abrir esta playlist para ouvir as músicas? Boa leitura! ;D
A primeira coisa a dizer é que este álbum de Akira Yamaoka foi lançado oficialmente em 13 de janeiro de 2006, apenas no Japão, pela Konami. Conhecido como iFUTURELIST, tem 17 faixas e mescla o Rock reconhecido por nós com algumas outras composições um pouco diferentes.
O CD continha ainda uma faixa bônus multimídia, com o vídeo da música de mesmo título, mostrando o próprio Akira todo doidão com uma moto e uma bandeira. Segue o vídeo e algumas descrições das músicas do álbum:
Em Love Me Do, Empty of the Sky, Adjust Rain, rislim, Showa Kigyou Senshi Kou Yama Kachou (Lolita on Breaks Mix) e System Love 7.5.5 é fácil reconhecer o estilo mais famoso dele.
Em especial a Adjust Rain lembra muito as músicas com vocal que foram utilizadas até Silent Hill 4: The Room.
Era inédito até então ouvirmos a voz do mestre Yamaoka, porém na terceira e 12ª faixa, respectivamente iFUTURELIST (que dá o título ao álbum) e Lion Suki, ele arrisca cantar. É, digamos, "estranho" ouvi-lo, já que ele não é cantor profissional e, como costumo dizer, a voz parece daqueles cantores de karaokê japoneses, mas não vamos depreciar o que não precisa, né? XD
tant pis pour toi, Injection of Love, Lion wa Tomodachi, Lion Suki, bitmania e Heavenly Sun são músicas que fogem do estilo que todos conhecemos. Foi uma grata surpresa para mim descobrir que ele fez músicas eletrônicas, muito boas por sinal, empenhadas e com vocal.A faixa número 10, Kurutta Kisetsu (que traduz-se como Season of Madness/Temporada de Loucura), é diferente. Mescla música Techno com vocais e percussão industrial, junto com sintetizadores. É agradável, porém nos pega um pouco de surpresa.
A faixa 14, April Fool No Uta (April Fool's Song), tem vocais meio doidos e lembra bastante outra com título parecido, a música do final UFO em Silent Hill 3, também conhecida como Silent Hill No Uta.
Em minha humilde opinião, o destaque máximo do álbum todo fica por conta de MARIA, a sétima faixa, orquestrada e absolutamente linda. É quase totalmente desconhecida, injustamente, já que tem um nome muuuito bem conhecido pelos fãs e nunca apareceu em nenhum jogo ou teve qualquer destaque.
É sério, é de uma beleza ímpar e quem ouve, jamais imagina que tenha sido composta e arranjada pelo nosso mestre, por ser diferente de tudo o que ele já fez. Acho tão perfeita que não posso deixar de colocar aqui um vídeo com a música para ser ouvida.
Esse álbum foi lançado e vendido oficialmente pela Konami, porém não chegou a fazer sucesso. Talvez pela falta de divulgação, talvez por não ser exatamente o que os fãs esperariam vindo de Akira Yamaoka, não se sabe a razão dele não ser tão comentado como deveria.
Logo que saiu da Konami (Silent Hill Shattered Memories foi lançado em 2009 e foi o último trabalho de Akira com a série), Yamaoka-san passou a fazer parte da Grasshopper Manufacture, companhia de desenvolvimento de jogos criada por Goichi Suda (vulgo SUDA51). Em pouco tempo, em 2011, ele já tinha composto a trilha sonora de Shadows of the Damned, jogo de tiro em terceira pessoa.
Junto com ele, na produção do álbum, participaram nomes já bastante conhecidos por nós: Joe Romersa fez as letras das músicas e Mary Elizabeth McGlynn emprestou outra vez sua voz maravilhosa às músicas cantadas, assim como Troy Baker.
As músicas não possuem nada de excepcional, até porque não cheguei a jogar para saber se casavam bem com os locais onde tocavam. Além disso, com exceção das faixas com estilo mais Heavy Metal, quase todas as outras foram meio "reciclagens" de músicas das trilhas de Silent Hill, especialmente do 0rigins em diante. Ele usa o mesmo estilo e os mesmos instrumentos/samples, é bem fácil reconhecer alguns temas reutilizados, inclusive com gênero Trip Hop e Ambient.
É sério, dá pra ouvir as músicas junto com a trilha sonora do SH0 e você mal vai perceber que são de álbuns diferentes. As faixas cantadas são muito boas, e acredito que o Heavy Metal da trilha foi o que a fez ter mais destaque. Nada a mais para comentar sobre ela.
Esse é mais um dos álbuns que pouca gente sabe que existe. Também, não é exatamente o tipo de música que se espera ouvir em um jogo da série, apesar de levar o subtítulo de SH4.
Robbie Tracks foi um disco promocional vendido pelo site da Konami na mesma época de Silent Hill 4: The Room, em 2004. Além do disco, vinha também com uma camiseta estampada com o coelho que dá o título. Tem apenas 3 faixas, todas elas em estilo Techno (música eletrônica), por isso a estranheza da existência dele.
Quem já assistiu os vídeos promocionais de Silent Hill 2 e 3 (que estão nos DVDs Art of Silent Hill e Lost Memories: The Art & Music of Silent Hill, além do "jogo" The Silent Hill Experience) provavelmente conhece os vídeos chamados de Ki-No-Ko, Caramel Mix, Fukuro e Usagi (vou colocá-los no final, calma :P). Em todos eles são usadas músicas compostas por Akira Yamaoka e especialmente em Fukuro, percebe-se que elas são bem similares. Ki-No-Ko e Usagi já têm estilo mais Trip Hop, e lembram um pouco algumas das músicas das trilhas sonoras.
A faixa cuja música é mais parecida com as Robbie Tracks é, sem dúvidas, Caramel Mix. É em estilo Techno e usa os mesmos samples e quase as mesmas notas.
Há ainda um terceiro vídeo, de apenas 30 segundos, entitulado SILENT HILL Robbie. A música também é muito parecida, apesar de ter saído na época de Silent Hill 3.
As três faixas de Robbie Tracks têm títulos com nacionalidades: German, French e Swedish. Em minha modesta opinião, todas são muito boas, principalmente a Swedish. Sou suspeito de falar porque gosto bastante de música eletrônica, mas acho que o tio Akira acertou a mão nessas músicas.
Segue aqui uma pequena playlist com os 4 vídeos mencionados acima. Preferi utilizar a versão desse canal porque é a única em alta resolução que respeita o aspecto 4:3 e não estica a imagem do vídeo.
Sabe quando aquelas parcerias musicais dão tão certo que é inevitável continuar fazendo músicas com eles/elas? Esse EP é exatamente isso!
Lançado em 2012 para o evento "V-CONCERT México 2012", Revolución é uma colaboração entre Akira Yamaoka, Troy Baker e nossa nada conhecida Mary Elizabeth McGlynn. É o tipo de música que o Akira mais gosta de fazer, puro rock, mas com vocais em espanhol e com temática do Día de los Muertos.
As 3 faixas têm os seguintes títulos: Revolución, Realidad e Día Del Muerto. As letras, como dito acima, são todas em espanhol. Ele tem um certo fascínio pela cultura mexicana, já que um dos sonhos dele era tocar com um mariachi. Nesse evento, ele realizou esse sonho. Coincidência ou não, já havia uma faixa em Silent Hill 4: The Room com o título de The Last Mariachi, a música do menu principal do jogo.
As músicas são ótimas, é uma pena que o EP não seja vendido comercialmente mundo afora. Provavelmente, foi apenas para o evento e os sortudos que puderam comparecer, com certeza compraram e ainda puderam pegar autógrafos do mestre.
Falar sobre a trilha sonora desse jogo é bem... digamos, difícil. Primeiro, porque o jogo de 2017 é no mínimo desconhecido, apesar de ter Akira Yamaoka como compositor. Segundo porque nunca cheguei a jogá-lo, já que não gosto de jogos de cartas, então vou comentar apenas sobre a trilha em si.
O estilo base de todo o álbum é música eletrônica. Especificamente, Synth-Pop ou Synthwave. Pra quem nunca ouviu falar, nesse estilo as músicas são feitas com sintetizadores que parecem dos anos 80, ou, de um jeito mais fácil de entender, "parecem músicas de Stranger Things".
As músicas são consistentes, bastante agradáveis de ouvir (se você gosta de Synthwave, claro) e parecem combinar com o estilo gráfico do jogo. Não é nada excepcional ou que valha uma recomendação de ouvir. Ele [Yamaoka] se esforçou, fica bem óbvio, mas por ser um jogo de nicho e independente, tudo ficou meio que na obscuridade mesmo. Some a isso o fato de ser um estilo que ele não é tão acostumado a compor e podemos entender a relevância não tão grande do álbum.
Quem já jogou sabe: Killer is Dead não tem como ser descrito ou encaixado em uma categoria específica. Basicamente, é um hack and slash (aqueles jogos nos quais você sai quebrando/cortando/destruindo tudo, sem necessariamente precisar se preocupar muito), mas com tanta coisa doida misturada que fica difícil descrevê-lo.
A trilha sonora não é diferente: varia entre tantos estilos que não tem como definir um gênero único. Muda de Jazz e Blues pra Funky, Lounge e em seguida vai pra música eletrônica e instrumentos tradicionais japoneses pra depois surgir música erudita remixada, Trance...
É, bem assim mesmo! A trilha segue o estilo do jogo, que é uma mistura deliciosa.
Se ele fez músicas no estilo que o consagrou? Claro que sim!
O jogo tem algumas músicas meio macabras/Dark, e nelas é possível perceber bem o toque de "música de Silent Hill" que ele deu, apesar de ser em algo que não tem nada a ver com a série. O remix do tema do jogo, chamada de Shin Sekai Remix, é bem a cara de algumas músicas de Silent Hill 3.
Ahá! Por essa ninguém esperava, hein?
Deixei exatamente para perto do final porque tenho quase certeza que a maioria não sabe que esse álbum foi composto por ele!
Antes mesmo de sequer compor a obra de arte trilha sonora de Silent Hill em 1999, Zé Yamaoka já havia composto outros álbuns para a Konami. Um deles é de um jogo que a maioria dos gamers mais ou menos da minha idade (segredo!) deve ter passado a infância e horas a fio jogando. Nada menos que Uingelévem Winning Eleven 3, ou International Superstar Soccer '98!
A trilha do jogo deve ter ficado gravada a ferro na mente de quem jogava loucamente na época em que saiu. As músicas são todas eletrônicas, tocam principalmente nos menus do jogo (afinal, não vai ficar tocando música durante a narração de um jogo de futebol, né?) e são muito boas. Nada que te faça querer ouvir fora do jogo, enquanto espera o ônibus, mas duvido que você sabia que ele tinha feito isso! ;D
Como se não fosse suficiente, ele ainda ajudou uma banda que, acredito eu, pouca gente sabe que existe. Os vocalistas dessa banda participaram de uma música de Silent Hill 3 e, na mesma época, o Akirão participou de um álbum deles, como arranjador e ainda fez um remix de uma das músicas.
Estou falando de Interlace, banda de EBM, Industrial e Ambient (página deles no Discogs.com aqui). Foram eles quem cantaram a música Rain of Brass Petals (Three Voices Edit) e, até onde eu sei, injustamente não aparecem nos créditos do jogo.
No mesmo ano em que lançou a trilha de SH3 (2003), Akira cuidou dos arranjos do álbum Under The Sky do Interlace. Além disso, fez um remix da música Missing Link, chamado de Heather Remix, desse mesmo álbum. É impossível ouvir e não perceber que é dele, afinal há vários efeitos sonoros e samples que ele usou em várias músicas de Silent Hill 3.
Sabem de que outros projetos ele participou também, mesmo sem ser como compositor oficial?
Só dentro da Konami, ele também ajudou na/participou da trilha de:
Não, ele não parou por aí. Em 2011, logo após a tragédia do terremoto no Japão e o acidente-quase-desastre nuclear de Fukushima, um álbum chamado Play for Japan foi lançado. Ele participou com uma das músicas, chamada Ex Animo (traduz-se como "do coração, sinceramente"), que tem uma composição muitíssimo parecida com as músicas mais melancólicas e tristes de Silent Hill (também, pudera, olha o assunto do álbum!).
É quase impossível ouvir essa música e não lembrar na hora de True, da trilha de Silent Hill 2. O sentimento carregado por ela é parecido, dá pra sentir a tristeza nas notas. Segue um vídeo não oficial com a música:
Como dito anteriormente, sendo funcionário da Konami, era óbvio que ele apareceria em algumas outras séries além de Silent Hill. Quem tem um pouco mais de idade deve lembrar dos simuladores de dança, bateria, teclado e mesa de DJ que a Konami possuía (e foram algumas das que ela jogou num poço sem fundo e deixou lá...). Dance Dance Revolution deve ser a mais famosa, aquela máquina de dança com as setinhas em formato de cruz (era a concorrente que tinha as setas em diagonal :P).
Pois bem, nessas séries há várias músicas e participações de Akira, seja com o nome original dele ou com seus pseudônimos (e ele tem vários). Se quiser ouvir, dê um pulo ali na Rádio, na parte Outros, ou, pra ficar mais fácil, clique aqui.
Vou tentar explicar um pouco de algumas delas, porque a lista é bem grande.
Aqui vão os clips de Your Rain (Rage Mix) e You're Not Here:
Yuigon Zakura é um projeto de Akira que passou despercebido por muitíssima gente. Não sei se o motivo é o uso de um pseudônimo novo (o álbum lista o artista como Enn Mo Takenawa), nem se por acaso ele é conhecido e eu é que sou o desinformado, mas não consigo nem mesmo lembrar como foi que o encontrei, tão obscuro ele é.
Ser obscuro ou desconhecido não significa que seja ruim. Pelo contrário, emho, o álbum é ótimo! A primeira música é bem Dark Ambient e tem aquela vibe Silenthillística que dá tanta saudade. Algumas são típicas dele, um Rock com vocais interessantes (apesar de eu não entender bulhufas de japonês xD), e outras já são mais calmas com apenas um vocal japonês falado por cima. No geral é bem agradável de ouvir, mas não tem nada nele que diga "oooh, é algo produzido por Akira Yamaoka e imperdível!".
A lista de músicas, devidamente romanizada, é:
Bom, a lista de trabalhos dele é meio gigantesca, então vou dar uma parada e deixar o link da ficha dele no VGMdb (aqui). Lá tem a discografia desde 1994 até 2019, inclusive participações e compilações.
Alguns dos álbuns eu não coloquei na Rádio aqui do site porque eles não são exatamente relacionados a Silent Hill, apenas possuem o compositor em comum. Também, é claro, não considero este artigo totalmente completo, pode ter passado algum pseudônimo ou obra em branco, mas todos os que consegui lembrar ou encontrar, listei aqui (por isso ficou tão gigantesco). Caso surja alguma novidade ou projeto, ou até mesmo novas informações para corrigir algo que escrevi aqui, altero assim que possível e aviso no início da postagem.
MUITO obrigado a quem conseguiu tempo e paciência para ler tudo isso! Espero ter ajudado a informar um pouco mais sobre a carreira do eterno mestre (e agora papai!) da nossa série de horror favorita!
Abração a todos!
James
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